Recentemente, o presidente Michel Temer assinou um Decreto extinguindo uma área de reserva ambiental na Amazônia, sob o pretexto de regulamentar a atividade de mineração na Região. Conhecida como Renca (Reserva Nacional de Cobre e seus Associados), a Área é equivalente ao Estado do Espírito Santo, e está localizada na divisa entre o Pará e Amapá.
Ocorre que qualquer alteração ou extinção de áreas de proteção ambiental só pode ser determinada por lei, que, relembrando, deve seguir todos os trâmites para aprovação pelo Congresso Nacional. Felizmente, o Decreto encontra-se suspenso pela Justiça Federal.
Após o fato, tem surgido mobilização de vários setores da sociedade, de ONGs ambientalistas, passando por políticos, até celebridades, representando uma admirável comoção diante da possibilidade de perdermos uma área de 46.450 km2 para interesses econômicos, que parecem não notar que sem meio ambiente não há vida, quanto mais Economia.
A hipocrisia social, no entanto, fica clara quando ignora-se que uma enorme parte da Amazônia foi destruída para que muitas destas mesmas pessoas, que hoje estão comovidas e preocupadas, possam comer seus bifes de cada dia, e claro, seus laticínios e ovos também.
Para se ter uma ideia, uma reportagem do último mês de março do UOL (leia aqui) anunciou que a Amazônia continua cedendo espaço à pecuária, e que o desmatamento da floresta teve um aumento de 29% em 2016. O chefe da vigilância por satélite da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Evaristo Eduardo de Miranda, afirmou que, nos anos 90, "os pastos ocupavam 210 milhões de hectares, contra 165 milhões hoje, enquanto as cabeças de gado bovino passaram de 140 milhões para 209 milhões."
A redução informada por Miranda, no entanto, deixa claro apenas que descobriu-se formas de confinar mais animais em espaços menores, o que significa, simplesmente, que estes animais vivem uma vida ainda mais miserável. Se por um lado, reduzir o uso de terras é importante, por outro se descobre os vários problemas da pecuária intensiva, para se obter produtos tão cruéis quanto nocivos e desnecessários. Ou seja, a pecuária não só precisa acabar, como precisa acabar urgentemente. E pra quem acha que é uma atividade importante pra Economia do país, precisa saber que ela causa R$ 22 milhões em danos ambientais para cada R$ 1 milhão de receita gerada (relembre aqui).
De qualquer forma, os 165 milhões de hectares equivalem a uma área maior que a do enorme estado do Amazonas. Sim, você leu certo! Os bois e vacas que muita gente come e bebe ocupam hoje uma área maior que a do estado do Amazonas. Não ficou claro se nesta conta incluíram as granjas onde milhões de frangos e galinhas sofrem todos os dias, bem como as áreas de plantações para alimentar todos estes animais. O que fica claro é que, somente agora, quando uma área do tamanho do Espírito Santo pode ser comprometida, a sociedade demonstra preocupação. Pois, parece mais fácil barrar a mineração do que abrir mão do prazer sádico de comer carnes, laticínios e ovos. Devemos deixar claro que a mineração é uma atividade extremamente danosa, mas a pecuária ainda mantém o posto de atividade mais devastadora do meio ambiente.
Neste momento, nos vem à memória uma fala da ex-presidente Dilma Roussef, quando ainda era ministra-chefe da Casa Civil, na qual ela afirmou durante seu discurso em uma Conferência do Clima, que o meio ambiente é uma ameaça ao desenvolvimento sustentável. O que foi considerado como um ato falho, para nós foi uma representação perfeita da mentalidade que reina entre a maior parte dos políticos e empresas, que priorizam o lucro a qualquer preço, esquecendo-se que, como dissemos antes, sem meio ambiente não há vida, quanto mais Economia.