Há exatamente 8 anos, eu tomava uma das maiores decisões da minha vida. De alguém que remava a favor da maré, para alguém que rema contra. Neste caso em particular, uma maré ruim, responsável pelos maiores problemas da humanidade, embora poucas pessoas façam tal conexão.
A violência, tão presente de várias maneiras, permeava minha vida de muitas formas "sutis", inteligentemente disfarçadas sob justificativas elaboradas. Todos falam das grandes guerras, dos conflitos entre nações, etc., mas poucos são os que se atentam para o fato de que estas situações nascem e crescem de sementes que estão dentro de cada um de nós, e que germinam todos os dias nos menores gestos violentos, enquanto não as arrancamos.
Pra você, pode ser “apenas” um filme de terror, um julgamento que faz sobre alguém, ou um jogo violento do qual goste. Para outros, a violência pode se desenvolver das formas mais bizarras que você tanto condena. No entanto, são todas formas de violência, e as maiores formas se desenvolvem naqueles que estão ainda mais inconscientes do que você, mas não se esqueça que elas nascem das menores.
Pra se livrar da violência é preciso ir além. Poucas pessoas estão conscientes de que a zona de conforto é, na verdade, uma zona de desconforto, que resiste ao tempo e nos torna imunes à compaixão, a menos que façamos alguma coisa, sem esperar que alguém nos siga ou nos apoie.
Quando criança, um dos meus maiores desejos era ser um adulto que teria em casa as melhores guloseimas industrializadas disponíveis no Mercado, principalmente sobremesas lácteas, queijos, e carnes de todos os tipos. E realizei este desejo por alguns anos.
Aos 24 anos, lembro de ter assistido ao documentário “Terráqueos” e me enganado mais uma vez com justificativas inteligentes. “Os animais podem ser melhor tratados e morrerem sem dor.”, pensava eu. Uma ideia muito comum, mas eu ainda não sabia que não existe forma humanitária de matar alguém que não quer morrer, ou de explorar alguém que não quer ser explorado.
Dois anos depois, enquanto trabalhava, me veio “do nada” a ideia de que eu deveria me alimentar melhor; uma forte intuição de que eu precisaria disso para me sentir mais disposto, feliz, e derrubar o senso comum de que se tornar idoso significa aceitar visitas constantes ao médico, provavelmente tomando remédios controlados de vários tipos até a morte. Comecei então a pesquisar sobre Vegetarianismo, pois já tinha uma noção do conceito e certamente o documentário “Terráqueos” estava surtindo efeito em minha consciência, após algum tempo abafado no meu inconsciente.
Após algumas pesquisas, eu estava decidido a me tornar vegetariano, ou melhor, ovo-lacto-vegetariano, que é a palavra exata conhecida como sinônimo de vegetariano, embora tecnicamente seja incorreto. Pesquisa vai, pesquisa vem, descubro que, não apenas as carnes, mas laticínios e ovos também estão ligados a várias doenças.
A internet, naquele ano de 2009, já apresentava muita informação a respeito do Vegetarianismo. Portanto, era de se esperar que logo eu entrasse em contato mais uma vez com este conceito que era novo pra mim: o Veganismo. Desta vez eu estava atento, pois não me lembro da palavra ter sido citada de forma explícita em "Terráqueos".
Eu diria que o Vegetarianismo é só mais uma dieta, mas que o Veganismo é algo que você pode preferir não conhecer, para não ter que fazer nada a respeito. Após conhecer, de uma forma ou de outra, você não tem como voltar atrás. Há uma frase que diz o seguinte: “Você nunca vai ganhar um debate com um vegano, porque o debate nunca é com ele, e sim com a sua consciência.”
Arthur Schopenhauer disse certa vez que toda verdade passa por três estágios: no primeiro, ela é ridicularizada; no segundo, é rejeitada com violência; no terceiro, é aceita como evidente por si própria. Esta mesma frase está presente no início de “Terráqueos”, com adaptações. Portanto, não há como voltar atrás, porque você estará, no mínimo, passeando entre o primeiro e o segundo estágio, ainda que ridicularize a ideia apenas dentro de sua própria mente, ou parta para “pequenas” violências, como as piadas que vai começar a fazer sobre pessoas veganas, pois elas são uma forma de aliviar o peso constante em sua consciência. Ah, você também poderá assumir outra postura: admirar quem consegue, mas dizer que não é pra você, por ser uma pessoa viciada em carnes, laticínios e ovos; a propósito, eu também era.
Portanto, eu lhe darei a escolha de não querer conhecer, e você pode parar a leitura aqui, se for o seu caso. Em algum momento, eu acredito que você queira voltar ao assunto. Já existe muita gente fazendo ativismo nas ruas, e você talvez se depare com algum grupo por aí, ou com um cartaz, e seja forçado a encarar sua consciência, assim como são forçados os animais não humanos que você prefere ignorar. Mas, certamente, seu pequeno sofrimento diante de sua consciência não é nada perto do que estes animais sofrem diariamente.
Se você decidiu continuar a leitura, o Veganismo é uma forma de viver sem explorar e causar sofrimento a animais não humanos, tanto quanto possível e praticável, o que também se estende aos humanos com quem convivemos, e a nós mesmos, em primeiro lugar, pois tudo o que fazemos aos demais é resultado de como nos tratamos. Quando nos tratamos melhor, fica mais fácil termos atitudes mais amorosas com os outros animais, sejam humanos ou não humanos. Mas também é possível começar pelo seu exterior, usando a inteligência. No entanto, o foco principal do Veganismo está em dar voz a quem não tem voz, e libertar quem dificilmente consegue libertar a si mesmo, e este é precisamente o caso dos animais não humanos.
Assim, eu estava novamente em contato com as mesmas verdades inconvenientes que vi no documentário “Terráqueos”, mas dessa vez mais aberto às informações, com menos resistências. Quando algo faz sentido, tudo fica mais fácil. Percebi, então, que não bastava uma alimentação livre de carnes, assim como também não bastava uma dieta livre de produtos de origem animal.
Eu estava disposto a abandonar todo o sofrimento e exploração animal da minha vida, mas ainda não sabia quando. Já tinha cortado as carnes da dieta em 18 de julho de 2009, até que, ao compartilhar o tema com um grande amigo, ele se dispôs a iniciar uma dieta sem carnes em 1 de agosto de 2009. Foi o que me moveu a escolher a mesma data para me tornar vegano.
Foi interessante descobrir que, ao me tornar vegano, eu parecia voltar ao ponto em que perdi a conexão com os animais não humanos. Me lembrei que eles fazem parte de nossas vidas e crescem conosco, como animais chamados "de estimação", nos desenhos animados, nas estampas de roupas, nos bichinhos de pelúcia e outros brinquedos, e, embora muitos desenhos, frutos de mentes doentes, os mostrem trapaceando e cometendo atrocidades, nós temos uma forte ligação com estes animais, pois no fundo sabemos que eles são nossos amigos.
Eles não são seres inferiores. Muitos deles podem ver mais longe que você, enxergar cores que você não enxerga, escutar frequências que você não escuta, voar com asas próprias, reagirem a uma situação de stress, mas logo voltarem a viver sem traumas, e podem viver livres de preocupações, quando estão na Natureza, algo que você não consegue nesta tão agitada vida humana. Você se acha mesmo superior?
Me pergunto como deve ser o conflito interno de pessoas que têm contato direto com estes animais, como é o caso de quem cresce em fazendas, vendo de perto seus sofrimentos, ao mesmo tempo em que criam um vínculo afetivo com eles. Deve ser preciso desenvolver uma frieza extrema, que talvez torne a maioria dessas pessoas ainda mais imunes à compaixão e ao respeito por estas vidas. A maioria, mas não todas. Exemplos podem ser vistos nos documentários “Peaceable Kingdom” (Reino Pacífico) e “Live and Let Live” (Viva e Deixe Viver), e a confusão com a qual convivem pessoas que se esforçam em manter a frieza pode ser vista em “Cowspiracy”, que é simplesmente o mais aclamado documentário sobre os impactos da pecuária no meio ambiente. “Live and Let Live” e “Cowspiracy” estão atualmente disponíveis no Netflix.
Outros documentários que considero importantes são “A Carne é Fraca”, produzido no Brasil, além de “Forks Over Knives”, “What the Health” e Food Choices”, que tratam dos impactos dos produtos de origem animal na saúde humana e também estão no Netflix.
Além das muitas palavras que eu poderia escrever a mais, está aquilo que você sente, mas não quer aceitar; está o triste destino de nascer com data marcada pra morrer ou sofrendo diariamente de formas que você jamais desejaria, por mais que lhe dessem comida e abrigo, e fosse “bem tratado”. Nenhum ser quer ser a posse de alguém. Nenhum ser quer morrer, ainda que de forma “humanitária”. Viemos pra viver, e todos nós, animais, sentimos dor, somos conscientes de nós mesmos, e queremos continuar vivos, para nossos próprios fins, e pelos nossos próprios meios.
Se você é vegetariana(o), vegana(o) ou simpatizante, aproveito para lhe convidar a se cadastrar em nosso Censo e divulgar pras pessoas que você conhece. Atualmente, já passamos de 24 mil pessoas cadastradas. Cadastre-se aqui e confira também as estatísticas atuais.
Por Leandro Chaves, fundador do Mapa Veg.