Howard Lyman era apenas mais uma criança como a maioria, com uma forte conexão com os animais não humanos, ao mesmo tempo em que aprendia na prática o que o professor e ativista vegano Gary Francione chamou de "esquizofrenia moral": uma condição na qual se afirma levar os interesses dos outros animais a sério, ao mesmo tempo em que se é cúmplice de todo tipo de crueldade contra eles.
Howard cresceu em uma pequena fazenda nos EUA, rodeado por animais. Seu cachorro era um grande companheiro, e ele deu nomes às vacas e cavalos com quem convivia. "Eu aprendi que uma vaca poderia identificar seu bezerro em meio a centenas de outros, sem errar. Nossos cavalos 'de trabalho' respondiam aos comandos verbais, então não havia dúvida de que entendiam nossas palavras, mas tivemos problemas em entender as deles.", escreveu ele em um artigo para o site Humane Myth.
O ex-pecuarista, ainda criança, sonhava em ser um fazendeiro. Após o ensino médio, ele foi para a Universidade Estadual de Montana (EUA) estudar Agricultura. Com o diploma na mão, se tornou um fazendeiro e construiu um grande negócio, numa área de 12 mil hectares, onde criava milhares de bovinos. "Eu olho para trás hoje com pesar em como eu me transformei numa parte da indústria movida pelo lucro, em vez de um animal compreensivo entre outros animais. Levei anos para entender que somos apenas uma parte do universo, e não a parte mais importante dele.", afirmou.
Em 1979, no auge da sua carreira de pecuarista, descobriu um tumor em sua coluna, que o deixou paralisado da cintura para baixo. Os médicos o disseram que ele tinha uma chance em um milhão de voltar a andar. "Me senti da mesma forma que os bovinos antes de serem abatidos – também debilitados a ponto de não conseguirem se movimentar.", contou ele em uma entrevista.
Foi durante sua recuperação que Howard começou a se questionar sobre suas escolhas, e refazer a conexão que tinha criado com os outros animais, mas que acabou sendo deturpada pela cultura especista que nos rodeia. Abaixo, segue um breve relato de Howard no fantástico documentário Peaceable Kingdom (Reino Pacífico) sobre sua mudança de consciência:
"Eu estava no banheiro e me olhei no espelho, e foi a primeira vez na minha vida que fui honesto comigo mesmo. Toda a minha vida eu disse que amava os animais. E então me perguntei: 'Se você realmente ama os animais, se você se importa com eles tanto quanto diz, por que come eles?'
Eu nunca vi um animal pular e dizer que quer ser um hambúrguer. Estive em centenas de matadouros, vi milhares de animais morrerem, e sempre que eu os observava, eu notava que eles sabiam o que aconteceria com eles. Havia o cheiro de morte. Eu me questionava: 'Existe alguma necessidade disso?'
Eu vi o medo nos olhos desses animais, mas até então não me permitia pensar a respeito, até que saí do hospital. E quando me questionei, quase derrubei a pia do banheiro. Eu não poderia ir até a minha esposa e discutir isso com ela. Como dizer que temos milhões de dólares investidos em um negócio baseado em alimentar e matar animais? Como eu poderia dizer: 'Talvez o que devêssemos fazer é sair desse negócio!'
Como eu desabafaria com meus amigos quando todos eles estavam trabalhando no mesmo ramo que eu? Não tive nenhum apoio. Mesmo que eu tentasse recorrer ao meu sacerdote, seria em vão, porque ele também comia carne tanto quanto eu. Foi o momento mais difícil e mais solitário da minha vida quando abandonei tudo."
Após sua transformação, Howard se tornou palestrante sobre Direitos Animais e Veganismo, co-autor dos livros Mad Cowboy e No More Bull, fundador e presidente da ONG Voice for a Viable Future, e participou dos famosos documentários McLibel, Meat The Truth, Peaceable Kingdom e Cowspiracy.